A reputação da Apple de fornecer anúncios inteligentes e visualmente impressionantes foi prejudicada com seu último anúncio, intitulado “Crush”. O anúncio, que mostrava uma enorme pilha de ferramentas criativas e elementos analógicos sendo espremidos na forma elegante de um iPad, provocou uma reação significativa e uma onda de descontentamento entre os telespectadores.
Esta reação exige uma exploração mais profunda das nuances do anúncio e das reações viscerais que ele suscitou. O cerne do descontentamento não é apenas a destruição de objetos, pois a internet está repleta de conteúdos que focam na destruição de objetos do cotidiano para entretenimento.
O YouTube está cheio de canais que destroem as coisas. O valor dos objetos, desde pianos até estações de edição, não é a principal preocupação, já que a cultura popular frequentemente testemunha a destruição desenfreada de tais objetos nos filmes.
O novo anúncio de paixão do novo iPad e as mensagens que ele carrega
O cerne do problema não reside na qualidade da produção do vídeo, que é inegavelmente elevada, mas sim na mensagem subjacente que transmite. A intenção da Apple de demonstrar as capacidades do iPad é clara: sugerindo que um único dispositivo pode substituir uma série de ferramentas criativas e práticas. No entanto, a representação de esmagar fisicamente estes itens num iPad envia uma mensagem desconcertante sobre a descartabilidade dos aspectos tangíveis e materiais da criatividade que muitos ainda consideram preciosos. Estas imagens, potentes e provocativas, parecem sugerir que os meios físicos através dos quais a criatividade tem sido tradicionalmente expressa podem ser casualmente descartados na era digital. Esta metáfora dos objectos a serem esmagados pela tecnologia implica que os substitutos digitais não são apenas alternativas, mas sucessores inevitáveis.
Reflexões sobre a substituição digital
Esta abordagem, talvez involuntariamente, posiciona a Apple como um gigante pronto para comprimir o mundo diversificado e caótico das ferramentas criativas na elegante uniformidade de um iPad. Esta é uma afirmação ousada sobre o rumo que a criatividade supostamente está tomando, mas é algo que muitos acham difícil de digerir. A experiência tátil de interagir com instrumentos e ferramentas reais tem uma qualidade insubstituível que uma interface digital não consegue replicar totalmente. A reação pode servir como um lembrete comovente para a Apple e outros gigantes da tecnologia de que as suas visões da tecnologia futura precisam ser cuidadosamente equilibradas com o respeito pelas ferramentas do passado e do presente que moldaram as expressões criativas ao longo das gerações. Ignorar esse equilíbrio pode desconectar uma marca de seu público, como pode ser visto nas reações viscerais a esse anúncio.
Depois de um tempo, as pessoas que usam o iPad para design acabam transformando esses designs em, nas palavras da Apple, “paixões”. Designers, artistas e cantores estão usando o iPad como ferramenta para traduzir seus trabalhos digitais em mídia física. Não temos certeza de quanto sentido faz anunciar um mundo onde você destrói sua realidade.
Embora a Apple pretendesse mostrar as capacidades impressionantes do iPad, o anúncio “Crush” destacou a tensão crítica entre a inovação digital e a preservação das ferramentas criativas tradicionais. À medida que avançamos na era digital, as empresas tecnológicas precisam de se lembrar que a inovação não deve ser apenas uma questão de substituição, mas também de integração e respeito pelos valores e ferramentas existentes que estão profundamente enraizados no nosso tecido cultural. Quanto ao que está por vir, podemos esperar que as campanhas futuras se lembrem desta lição, garantindo que os avanços na tecnologia celebram, em vez de aniquilar, o passado.
Crédito da imagem em destaque: AppleYouTube
Source: O anúncio “Crush” da Apple sai pela culatra